Entrevista a Adão Contreiras. Vídeo
LITERATURA * EDIÇÕES * DIVULGAÇÃO *
A maneira como leio as tuas palavras. O que não está escrito e o que pensas escrever de forma oculta. Imaginei que não seria fácil expor assim a vida. Por muito que tenhamos para contar, uma grande parte exige que sejamos contidos. Como se as palavras te pedissem respeito pelo que vais escrever. A infelicidade é uma rua estranha, e mesmo que a tenhas percorrido de olhos fechados, inúmeras vezes, nunca sabes onde estás nem para onde vais. Entras e julgas ter saído. Permaneces e julgas estar ausente.
Há também a violência física e psicológica. Nem todas as palavras têm estrutura para contar a tua história. Ficas de fora, evidentemente. Talvez as feridas reclamem novo tratamento e as palavras que voltares a escrever justifiquem outra versão do enredo.
E o sexo, coisa íntima, arma que carrega a responsabilidade de acertar sempre em cheio, perfeito, desejo elevado à condição do prazer. Tinhas dito: sexo com qualidade. Não estará a qualidade do sexo na acção consciente do acto amoroso? Palavra antiga, como se o amor fosse uma regra e não um elemento que se destina aos grandes relacionamentos, intempestivos e possantes. Subversivos e magoados.
A qualidade está no coração, esse gatilho que faz disparar o corpo enquanto obra de arte dedicada ao prazer. A qualidade do sexo está na arte do corpo. Não um corpo qualquer. Mas um corpo capaz de pensar o seu próprio acto. Um corpo sentimento que invade o outro na sua profundidade.
A impressão que toda esta história me fez sentir. Uma personagem tratada como uma puta. Materialista e fútil, quase mecânica e insensível. Uma actriz que se estuda ao espelho para mais um encontro. Uma jovem mulher que se perde em complicados jogos sexuais, porque estar só é para ela uma imagem do deserto reflectida nas suas lentes de contacto. Estar só é um tempo demasiado insignificante, e o corpo pede-lhe homens na paisagem. Também há o lado humano.
Uma mulher minimalista. Cada frase que dizes faz lembrar cartazes luminosos onde as palavras disparam a sua luz para nos revelar a obscuridade implícita no teu pensamento. Linguagem económica. Quase esqueleto. Se deres mais carne às palavras, agradeço. Se me deres sangue, veias, emoções, a pessoa que és arrasará em todos os sentidos. Sê um pouco mais humana e não tão fragmentária.
18 de Novembro (quinta-feira) | Biblioteca Municipal de Silves - 21.00h
SARAU INSTÁVEL [nova rubrica mensal]
(tertúlia à volta de autores, temas e outros vícios…)
Tema: “MÚSICA DE CAMA”
Os múltiplos e (in)sondáveis prazeres, tentações,
encantamentos, efabulações, “desvarios”
e provocações da literatura erótica…
Com convidados muito especiais: na dança do
ventre, música e performance ao vivo…
Fernando Cabrita vence Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2010 com o original "Ode à Liberdade e Outros Poemas".
O prémio resulta de uma colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e o Sulscrito – Círculo Literário do Algarve, em parceira com a Câmara de Punta Umbría (Espanha).
O valor do prémio é de 2500 euros e a obra vencedora é publicada na colecção Palavra Ibérica, em edição bilingue.
Um júri constituído por José Carlos Vilhena Mesquita (em representação da Associação
dos Jornalistas e Escritores do Algarve), João Carlos Firmino Andrade Carvalho (em representação da Universidade do Algarve) e Rogério Silva (em representação da editora Gente Singular), atribuiu o Prémio ao original «Ode à Liberdade e Outros Poemas», de Fernando Cabrita, de entre um total de 89 obras a concurso.
Além de Fernando Cabrita, o júri decidiu atribuir duas menções honrosas aos originais "Um Coração Simples", de Daniel Gonçalves, e "Sonetos de Pasmo, Esperança e Solidão", de Joaquim da Conceição Barão Rato.
Fernando Cabrita nasceu em Olhão em 1954. A sua primeira obra “Os Amantes em Silêncio”, foi editada em 1980. “O Livro da Casa”, publicado em 2008 pela editora Gente Singular,da qual é um dos editores, valeu-lhe o Prémio Nacional de Poesia Mário Viegas. Entre os outros prémios que recebeu ao longo da sua carreira estão o Prémio Sílex (1980), Prémio Cidade de Olhão (1987) e Prémio Nacional de Poesia João de Deus (1997). Colaborou também com diversos jornais e revistas.
Na edição anterior do Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica, o vencedor tinha sido Maria do Sameiro Barroso, com “Uma Ânfora no Horizonte”, enquanto que em 2008 o vencedor foi Amadeu Baptista, com o livro “Sobre as Imagens”.
Colaboradores: Melusine de Matos, Sílvia C. Silva, Renato Filipe Cardoso, manuel a. domingos, Fernando Esteves Pinto, Zarelleci, Rui Costa, Ivar Corceiro, Ricardo Álvaro, BiXinho, Raul Simões Pinto, Gilberto de Lascariz, Rui Azevedo Ribeiro, Meireles de Pinho (ilustrações), Luís Serra, Miguel Sá Marques, Sérgio Almeida, Humberto Rocha, A. Dasilva O. e Théodore Fraenckel.
1 – O surrealismo dá-te muito trabalho?
R: Sobretudo à segunda-feira (sorriso)... A escrita é, em mim, quando
acontece, uma terapia lunissolar e estruturante; por isso, uma atitude
de trabalho inicialmente se não vislumbra e evoca.
2 – A desestruturação mental é uma vantagem para um poeta se sentir confortável num ambiente surreal?
R: Para já, antes pelo contrário... em boa hora, cada anzol, cada peixe; em suma, é preciso estar muito estruturado para saber finalmente desestruturar.
3 – Imagina que dividimos uma garrafa em três partes (o fundo da garrafa, o corpo da garrafa e o gargalo), as quais representam respectivamente três fases do dia (a manhã, a tarde e a noite). Qual é a fase que te influência mais no processo criativo?
R: Debaixo da Lua, sem (100) garrafas...
4 – Fala-me dos teus Animais da Cabeça.
R: É um livro que nasce de uns desenhos que fiz por volta do ano 2000, os quais estiveram longamente pousados sobre um sofá lá de casa, até que.
5 – O desenho e a pintura são o outro lado dos teus poemas. Correspondem à clarificação mental do teu imaginário poético. O que vês quando escreves poesia?
R: A mulher, a tal, nua, dentro dos translúcidos espelhos.
6 – Tens consciência de que a tua poesia marca uma atitude, uma linguagem, que é no essencial a tua própria imagem e comportamento perante a vida e os outros?
R: Tenho. Afinal, talvez não ...
7 – Que realidade entra nos teus poemas?
R: Neste livro ( Os Animais da Cabeça), uma pseudo-realidade quase
fora de si mesma.
8 – Há um diálogo implícito nos teus poemas. Que diálogo é esse e com quem?
R: Só pode ser com o eventual leitor e a literal surdez do mundo.
9 – O teu último livro “Os Animais da Cabeça” é, quanto a mim, um breve tratado psico-filosófico sobre o género humano. É na desconfiguração do quotidiano que investes a tua racionalidade?
R: Parece utópico, mas existe de quando em vez na minha escrita uma
certa irracionalidade a investir no quotidiano.
10 – Em quase todos os teus poemas verifica-se uma linha bem definida de transição entre o sentimento pessimista da vida e o sentimento cómico, risível da vida. Como te defines perante a realidade?
R: Na totalidade dos contrários...
Antologia da Indiferença
Pior que uma cidade indiferente à acção criativa dos seus poetas e artistas, é estes sentirem-se subtraídos dos seus direitos no espaço de intervenção da sua própria cidade. Não se trata aqui de traçar um círculo de combate onde a consciência se posiciona em estratégias de defesa ou ataque, munidos das suas armas criativas, que, a verificar-se, apenas apontariam na direcção da arte como alvo (...)
Entre todos os homens, os poetas são os primeiros a saber quando a musa lhes põe os cornos.