quarta-feira, 3 de julho de 2013

Leitura

 


«Encontros Improváveis» é o primeiro livro de ficção do historiador Fernando Pessanha. Na obra, e ao longo dos contos que a compõem, o autor vai tecendo enredos inventivos com imagens mais ou menos cristalizadas no tempo e espaço. Nesse âmbito, é notória a preocupação do autor para desconstruir visões unilaterais que costumam funcionar como base de preconceitos na sociedade dos dias de hoje, havendo nestes contos uma ponte entre o que é mundano e espiritual. Amplia-se aqui o processo perceptivo, a dialética enquanto instrumento de leitura capaz de levar o sujeito a compreender a multiplicidade e o lado híbrido das imagens. Ao longo da obra vemos constrangimento, diferentes enquadramentos e, claro está, situações insólitas, improváveis, sempre com muita acção e fôlego acelerado, com uma concessão, do meu ponto de vista benéfica, a um lado mais cinematográfico. Assiste-se também a uma permanente reflexão em que se indaga permanentemente a função do ser, a temporalidade e a existência no mundo. É porém uma reflexão indirecta, no sentido em que é o leitor que reflecte a partir das cenas, muitas delas fortes e com um final surpreendente e de ruptura com as próprias palavras até então. É a literatura enquanto devolução, mas com risco corrigido e calculado, espelho que movimenta o corpo apenas pelo olhar na sua direcção. Os temas são, alguns deles, fortes, mas sempre tratados com elegância, convidando o leitor a sentir a força das cenas, integrando, ele mesmo, os fantasmas e os medos de cada uma das personagens.

Tiago Nené


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