«Encontros
Improváveis» é o primeiro livro de ficção do historiador Fernando Pessanha. Na
obra, e ao longo dos contos que a compõem, o autor vai tecendo enredos inventivos
com imagens mais ou menos cristalizadas no tempo e espaço. Nesse âmbito, é
notória a preocupação do autor para desconstruir visões unilaterais que costumam
funcionar como base de preconceitos na sociedade dos dias de hoje, havendo
nestes contos uma ponte entre o que é mundano e espiritual. Amplia-se aqui o
processo perceptivo, a dialética enquanto instrumento de leitura capaz de levar
o sujeito a compreender a multiplicidade e o lado híbrido das imagens. Ao longo
da obra vemos constrangimento, diferentes enquadramentos e, claro está,
situações insólitas, improváveis, sempre com muita acção e fôlego acelerado,
com uma concessão, do meu ponto de vista benéfica, a um lado mais cinematográfico.
Assiste-se também a uma permanente reflexão em que se indaga permanentemente a
função do ser, a temporalidade e a existência no mundo. É porém uma reflexão
indirecta, no sentido em que é o leitor que reflecte a partir das cenas, muitas
delas fortes e com um final surpreendente e de ruptura com as próprias palavras
até então. É a literatura enquanto devolução, mas com risco corrigido e calculado,
espelho que movimenta o corpo apenas pelo olhar na sua direcção. Os temas são,
alguns deles, fortes, mas sempre tratados com elegância, convidando o leitor a
sentir a força das cenas, integrando, ele mesmo, os fantasmas e os medos de
cada uma das personagens.
Tiago Nené
Tiago Nené
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